“O Assalto de nossas vidas” é uma obra que merece ser vista mais de uma vez para ser plenamente apreciada. Inicialmente, você pode ser tentado a comparar o filme, dirigido por Jack Spring e escrito por Paul Stephenson, com as comédias de ação britânicas estilo Guy Ritchie. A primeira impressão é de um filme divertido, porém não muito profundo, que parece ter chegado com algumas décadas de atraso.
Entretanto, ao assistir novamente, você descobre camadas adicionais que enriquecem a trama.
O Assalto de nossas vidas: o filme
Ambientado na cidade de Grimsby, o filme narra as aventuras de Curley Dean (James Burrows), Budgie (Sam Glen), e Codge (Michael Kinsey), junto com Gilly (Lauren Foster), Queenie (Grace Long), Demi (Melissa Batchelor), o Sr. Barr (Colm Meaney), o Sr. Graham (Jonas Armstrong), e Wheezy (Robbie Gee).
Com uma duração de apenas 92 minutos, “O Golpe do Século” enfrenta o desafio de desenvolver um grande elenco de personagens em pouco tempo, o que pode deixar o espectador querendo mais profundidade e detalhes sobre cada um deles.
O filme começa com Curley e Budgie retornando ao porto após um período de pesca, prontos para desfrutar de seus “três dias de milionários”, seguindo uma superstição local que diz que quem não gasta seu salário antes de voltar ao mar está amaldiçoado.
A trama se complica quando os desenvolvedores locais, com o apoio do Sr. Barr, planejam gentrificar a região, o que ameaça a tradicional indústria pesqueira de Grimsby.
Quebrados e traídos, Curley e sua equipe são convocados para um último esforço para reivindicar o que acreditam ser justo, numa tentativa de equilibrar as coisas para a comunidade.
“O Golpe do Século” promete uma experiência cinematográfica vibrante, porém desafiadora, com múltiplas subtramas que se entrelaçam em um enredo central, dando a impressão de que tudo está prestes a colapsar sob seu próprio peso antes do clímax do filme.
Na primeira vez que você assiste a “O Assalto de Nossas Vidas”, a comédia leve e os personagens excêntricos podem te levar a pensar que é apenas mais um filme divertido e sem compromisso. Mas prepare-se, pois essa é apenas a superfície!
Uma segunda volta reveladora
Em uma segunda exibição, um subtexto mais profundo se revela. As discussões sobre comunidade, classe e a nostalgia por uma era de ouro perdida te fazem perceber que há algo mais acontecendo.
Observe Curley. No início, ele quebra a quarta parede, explicando seus planos diretamente para o espectador. A energia frenética e a cinematografia vibrante nos lembram do estilo de Guy Ritchie. Mas quando a notícia da ruína da pesca em Grimsby chega, tudo muda.
O estilo do filme amadurece, assim como os personagens. A quebra da quarta parede cessa. A jovialidade de Grimsby se transforma em desilusão. Por trás da comédia, surge um drama social pungente sobre personagens que lutam por um futuro que lhes foi negado. A autodestruição que os cerca ganha um novo significado.
Curley, Budgie e Codge são forçados a confrontar a realidade de que seus sonhos são impossíveis, dependentes da boa vontade de pessoas gananciosas. A iluminação muda de naturalista para emocional, refletindo o conflito interno dos personagens.
A trama de vingança se torna menos sobre o objetivo final e mais sobre a busca por justiça para a classe trabalhadora da cidade. Em alguns momentos, o filme pode ser pesado, mas ainda assim relevante: uma resistência contra a devastação neoliberal que dizima indústrias e comunidades.
E a Comédia?
A comédia ainda está presente, variando entre o hilário e o sutil. Há momentos de risadas genuínas e tropos clássicos, mas também há partes que podem parecer forçadas e preguiçosas. Isso não significa que a comédia seja ruim, apenas que poderia ter sido mais elaborada.
“O Assalto de Nossas Vidas” é um filme imperfeito, longe de ser uma obra-prima, mas ainda assim, uma boa experiência cinematográfica. Possui um subtexto forte, uma direção madura de Jack Spring e momentos genuinamente engraçados.
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